
Um problema de Saúde Pública:
Durante um certo tempo, era necessário proceder a eutanásia dos cães contaminados com a leishmaniose visceral canina. A medida foi tomada pois trata-se de uma zoonose, e o cão é o principal hospedeiro.
Com o tempo foram desenvolvidos vacinas e estudos sobre protocolos terapêuticos, e hoje é possível manter uma sobrevida digna nos cães infectados, desde que os tutores se responsabilizem por mantê-los sob observação constante, medicamentos de uso contínuo, e exames esporádicos de acompanhamento. E sobretudo, sustentarem suas condições físicas e de bem-estar. Não é uma tarefa fácil. E sobretudo, nas áreas endêmicas, prevenir constantes reinfecções, que é o maior risco, pois em geral, quando o paciente tem melhoria dos seus sintomas físicos, o tratamento é negligenciado, e acaba havendo ou uma volta dos sintomas agravados, ou uma reinfecção.
O que é Leishmaniose visceral canina:
A leishmaniose é uma doença infecciosa grave, causada pelo protozoário Leishmania infantum, também conhecido como Leishmania chagasi. É transmitido aos seres humanos e animais através da picada de mosquitos infectados, principalmente do gênero Lutzomya, nas Américas. Aventa-se a hipótese que existem outros vetores secundários, como carrapatos, mas está hipótese ainda está sendo investigada.
Os cães são os principais reservatórios da leishmaniose visceral, e a doença pode ser transmitida aos seres humanos através da picada de mosquito infectado que tenha se alimentado de sangue de um cão portador do protozoário. A doença não é transmitida diretamente do cão doente para o ser humano. Sempre será necessária a presença do vetor, no caso, o mosquito.
Os sintomas variam bastante, os cães apresentam perda de peso, falta de apetite, fraqueza, feridas da pele que não cicatrizam, crescimento excessivo das unhas, aumento dos gânglios linfáticos, e dores articulares intensas, entre outros. O que é mais preocupante, é que às vezes o cão infectado demora muito para apresentar estes sintomas, ou os mesmos não são detectados, a não ser quando o animal já está muito fraco. Os sintomas se confundem com os de outras doenças infecciosas, e pode haver mais de uma enfermidade presente, complicando o quadro.
O espectro clínico da LVC progressiva inclui linfoadenopatia (que é um sinal muito importante), epistaxe, anemia não regenerativa, diarreia, hepatoesplenomegalia, problemas de locomoção, conjuntivite, lesões oculares e lesões dermatológicas. Os sintomas como a caquexia, a atrofia muscular (mais notória na cabeça), e a perda de peso são devidos em grande parte à proteinúria, decorrente da disfunção gluomerular, como na glomerulonefrite membranoproliferativa, por deposição de imunecomplexos, ao nível da membrana basal do endotélio glomerular, que perde assim a capacidade de filtração. A doença evolui gerando síndrome nefrótica ou insuficiência renal crônica.
A hipoalbuminemia pode estar presente como resultado da perda de proteína, seja por doença hepática, seja por má nutrição ou alteração de mecanismos de equilíbrio osmótico.
As lesões oculares incluem blefarite associada à alopecia, seborreia, e dermatite facial; ceratoconjuntivite seca devido à ação destrutiva dos parasitas no aparelho lacrimal; conjuntivite granulomatosa refratária ao tratamento; ceratite; uveíte anterior mediada por imunecomplexos e associada a edema da córnea e glaucoma de ângulo fechado; esclerite, e hemorragia retiniana. Foi também observada iridociclite em cães em tratamento, considerando tratar-se de uma manifestação alérgica.
As lesões dermatológicas aparecem em 80% a 90% dos cães com LVC. Dentre as lesões cutâneas, encontra-se dermatite esfoliativa seca e generalizada, com escamas branco-prateadas como asbesto; alopecia principalmente na zona periocular, pregas de pele e articulações; anomalias de cornificação; seborreia seca; hiperqueratose; paroníquia; onicogrifose (unha semelhante à garra ); dermatose (seborreia) do bordo da margem do pavilhão auricular, com hiperqueratose, associada à vasculite, que evoluem para úlceras e crostas (também verificadas nas zonas de proeminência óssea dos membros, devido à pressão de decúbito); ainda, encontram-se úlceras no focinho e ao nível da transição muco-cutânea dos lábios, e da mucosa nasal, que com frequência é denunciada pela epistaxe, geralmente unilateral.
Os exames de rotina são o ELISA e o RIFI com diluição plena. Se estes forem duvidosos, outros exames são necessários, como citologia de material medular, aspirado de gânglios linfáticos, PCR do sangue. Algumas vezes, estando o cão muito imunossuprimido, é difícil confirmar o diagnóstico.
continua…